segunda-feira, 15 de março de 2010

SOPA DE PEDRAS

A história que vou contar é mais uma das muitas de Pedro Malasarte. Minha mãe, Dona Bena, sempre nós contou história dessa figura esperta, que por sua vez ouviu da boca de sua mãe, minha vó Teresa. Ela jura que ele morou em Portel-Pa. Mas qual não foi minha supresa ao encontrar uma de suas aventuras publicada no livro "Contos Populares Para Crianças da América Latina"!!????!!!. Ahhh, as vozes da verdade dos contadores de uma boa história!!!!!!!!!!

Vamos a ela:


Pedro Malasarte era um cara danado de esperto. Um dia ele estava ouvindo a conversa do pessoal na porta da venda. Os matutos falavam de uma velha avarenta que morava num sítio pros lados do rio. Cada um contava uma caso pior que o outro:

- A velha é unha-se-fome. Não dá comida nem pros cachorros que guardam a casa dela - dizia um.

- Quando chega alguém pro almoço, ela conta os grãos de feijão pra pôr no prato. verdade! Quem me contou foi o Chico Charreteiro, que não mente - afirmava outro.

- Eta velha pão-dura! - comentava um terceiro. - Dali não sai nada. Ela não dá nem bom-dia.

O Pedro Malasarte ouvindo. Ouvindo e matyutando.

Daí a pouco entrou na conversa:

- Querem apostar que pra mim ela vai dar uma porção de coisas, e de boa vontade?

- Tu tá é doido! - disseram todos. - Aquela velha avrenta não dá nem risada!

- Pois aposto que pra mim ela vai dar - insistiu o Pedro. - Quanto vocês apostam?

A turma apostou alto, na certeza de ganhar. Mas o Pedro Malasarte, muito matreiro, já tinha um plano na cabeça. Juntou umaas roupas, umas panelas, um fogãozinho, amarrou a trouxa e se mandou pra casa da velha. era meio longe, mas pra ganhar aposta o Malasarte não tinha preguiça.

O Pedro foi chegando, foi arranchando, ali bem perto da porteira do sítio da velha. Esperou um tempo pra ser notado. Quando viu qua a velha já tinha reparado nele, armou o fogãozinho, botou a panela em cima, cheia de água, e acendeu o fogo. E ficou o dia inteiro cozinhando água.

a Velha, lá de casa, só espiando. E a panela fumegando.

E o Pedro atiçando o fogo.

Não demorou muito, a velha não aguentou a curiosiade e veio dar uma espiada. O Pedro firme, atiçando o fogo.

no dia seguinte, panela no fogo, fervendo água, soltando fumaça. Pedro atiçando o fogo. A velha olhando de longe, lá de dentro da casa.

Até que ela não conseguiu mais se segurar de curiosidade. Saiu e veio negaceando, alhar de perto. O Pedro pensou: "É hoje!"

Catou umas pedras no chão. lavou bem e jogou dentro da panela. E ficou atiçando o fogo pra ferver mais depressa.

A velha não se conteve:

- Oi, moço, tá cozinhando pedra?

- Ora, pois sim senhora, dona - respondeu o Pedro. - Vou fazer uma sopa.

- Sopa de pedra? - perguntou a velha com uma careta. - Essa não, moço! Onde já se viu isso?

- Pois garanto que dá uma sopa pra lá de boa.

- Demora muito pra cozinhar? - perguntou a velha ainda duvidando.

- demora um bocado.

- E dá pra comer?

- Claro, dona! Então eu ia perder tempo à toa?

A velha olhava as pedras, olhava pro Pedro. E ele atiçando o fogo, e a panela fervendo. A velha meioincrédula, meio acreditando.

- É gostosa, essa sopa? - perguntou ela depois de um tempo.

- É - respondeu o Malasarte. - Mas fica mais gostosa se a gente puser um temperinho.

- Por isso não - disse a velha. - Eu vou buscar.

Foi e trouxe cebola, cheiro-verde, sal com alho.

- Tomate a senhora não tem? - perguntou o Pedro.

A velha foi buscar e voltou com três, bem maduros.

Pedro botou tudo dentro da panela, junto com as pedras. e atiçou o fogo.

- Vai ficar bem gostosa - desse ele. - Mas se a gente tivesse um courinho de porco...

- Pois eu tenho lá em casa - disse a velha. E foi buscar.

Couro na panela, lenha no fogo, a velha sentada espiando. Daí a pouco ela perguntou:

- Não precisa pôr mais nada?

Até que ficava mais suculenta se a gente pusesse umas batatas, um pouco de macarrão...

A velha já estav com vontade de tomar a sopa, e perguntou:

- Quando ficar pronta, posso tomar um pouco?

- Claro, dona!

Aí ela foi e trouxe o macarrão e as batatas.

O malasarte atiçou o fogo, pro macarrão cozinhar depressa.

Daí a pouco a velha já estava com água na boca!

- Hum, a sopa tá cheirando gostosa! Será que as pedras já amolecesam?

Em vez de responder, o Pedro perguntou:

- A senhora não tem uma linguiçinha no fumeiro? Ia ficar tão bom...

Lá foi a velha de novo buscar a llinguiça.

Cozinha que cozinha, a sopa ficou pronta. Malasarte então pediu dois pratos e talheres, a velha truxe.

O Pedro encheu os pratos, deu um pra ela. Separou as pedras e jogou no mato.

- Ué, moço, não vai comer as pedras?

- Tá doida! - respondeu o Malasarte. - Eu lá tenho dente de ferro pra comer pedra?

E tratou de se mandar o mais depressa que pôde. Foi correndo pra venda, cobrar o dinheiro da aposta.


terça-feira, 2 de março de 2010

A MULHER DOS PÁSSAROS

... e mais uma enviada pelo Luiz.
Dona Genu ficara viúva cedo, com três filhas para criar, o que fez sozinha, pois não quisera casar. Sua maior alegria era receber em sua casa centenas de passarinhos, que logo chegaram para comer, cantar e, como ela dizia, conversar, até as últimas horas do dia. As filhas, quando crianças, gostavam daquele alvoroço. Já adolescentes, achavam meio estranho, tantos pássaros. Agora adultas, passam o dia fora no trabalho e nem ligam mais...
Todos a chamam de " A Mulher dos Pássaros"; ela nem liga, até gosta. É deles mesmo, é para eles que agora dedica a sua vida. Alimentar, dar água e... conversar com eles. Diz que sabe de tudo, pois os passarinhos trazem sempre notícias. Contam-lhe dos rigores do inverno, da extinção de algumas espécies de animais. Das chuvas extensas e da falta dela... Dona Genu sabe de tudo e todos através dos pássaros.

MARTON MAUÉS